Proposta do Programa

28/01/2013 20:49

No mundo ocidental moderno, a medicina tem sofrido inúmeros desafios, tem sido crescente a necessidade da mudança de paradigmas. Vida e morte são dois extremos que não podem ser dissociados. Como um corolário temos, de um lado o tratamento intensivo, que visa a recuperação da vida, mesmo que para tal exista algum grau de desconforto do paciente. Do outro lado está o cuidado paliativo, que visa a manutenção da qualidade de vida, enquanto houver vida, sem o prolongamento do morrer. Embora esses tratamentos possam ser considerados antagônicos, deve-se buscar sua intersecção. Não se pode lutar pela vida sem a busca da qualidade da vida.

A modernidade encara a morte como uma prova de fracasso. Em 1993, foi descrito no jornal The New York Times: ” Quando a morte era considerada um evento metafísico, exibia certo tipo de respeito. Hoje, que o processo se prolonga enormemente, é vista como prova de fracasso. Num sentido bastante novo em nossa cultura, ficamos envergonhados da morte e procuramos nos esconder dela”. Por outro lado, Rubem Alves escreveu: ” Houve um tempo em que nosso poder ante a morte era muito pequeno e, por isso, os homens e as mulheres dedicavam-se a ouvir sua voz e podiam tornar-se sábios na arte de viver. Hoje, nosso poder aumentou, a morte foi definida como inimiga a ser derrotada, fomos possuídos pela fantasia onipotente de nos livrarmos de seu toque. Com isso nos tornamos surdos às lições que ela pode nos ensinar”.

Inevitavelmente, cada vida humana chega ao seu fim. Assegurar que a morte ocorra de forma digna, com cuidados adequados e buscando-se o menor sofrimento possível, é missão daqueles que assistem aos pacientes portadores de enfermidades terminais.  Segundo José Eduardo Siqueira, a pergunta que se impõe aos médicos é sobre o que ocorreu com a prática médica no cenário da modernidade. O modelo cartesiano-flexeneriano, matriz da formação médica atual, introduziu práticas na atenção à saúde que resultaram em dramáticas mudanças no relacionamento médico-paciente. O extraordinário avanço técnico-científico aliado ao uso acrítico de métodos de semiologia armada descaracterizou a medicina como arte, levando o profissional a distanciar-se das dimensões biográficas das pessoas enfermas. Surge então, no século XXI,  uma busca de sensato equilíbrio na relação médico-paciente e, mais especificamente no balanceamento da prescrição de tratamento curativo restaurativo versus tratamento paliativo.

Tendo em vista que os cuidados paliativos visam o controle de qualquer sintoma que cause sofrimento, buscando dar ao doente e seus familiares a melhor qualidade de vida possível, pode-se afirmar que a  paliação é indicada para qualquer paciente que convive ou está em risco de desenvolver uma doença que ameaça a vida, independente do diagnóstico, prognóstico ou idade, podendo complementar a até melhorar o tratamento modificador da doença.  Portanto, tratamentos restaurativos/curativos podem e devem caminhar juntos dos cuidados paliativos. Torna-se importante que os profissionais da saúde saibam como fornecer o melhor tratamento ao seu paciente, reconheçam a importância do trabalho inter e multiprofissional e  possam quebrar o paradigma da cura como  função primordial da medicina. O médico deve estar treinado tanto para  Curar como para Paliar.  Tendo em vista o relatado, propôs-se o Mestrado Profissional associado à Residência Médica em Cuidados Intensivos e Paliativos.

Objetivo primário: formar profissionais com uma visão  paliativista, em todas as fases de atenção ao doente, e com treinamento para o tratamento inicial de pacientes críticos.

Objetivos secundários:

– Qualificar os mestrandos ao exercício de pesquisa científica, da docência e da assistência;

– Treinar, do ponto de vista técnico, o mestrando, para a implantação de cuidados paliativos nas diferentes especialidades médicas;

– Capacitar o mestrando para o atendimento emergencial de pacientes críticos.